sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Penellope

Mais do que sonho: comoção!
Sinto-me tonto, enternecido,
Quando, de noite, as minhas mãos
São o teu único vestido.

E recompões com essa veste,
Que eu, sem saber, tinha tecido,
Todo o pudor que desfizeste
Como uma teia sem sentido;
Todo o pudor que desfizeste
A meu pedido

Mas nesse manto que desfias,
E que depois voltas a pôr,
Eu reconheço os melhores dias
Do nosso amor.

David Mourão Ferreira, Os Quatro Cantos do Tempo


Desfaço durante a noite o meu caminho.
Tudo quanto teci não é verdade,
Mas tempo, para ocupar o tempo morto,
E cada dia me afasto e cada noite me aproximo.

Sophia de Mello B. Andresen, Coral

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